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Thais Cassapian e Yeda Braz Forni

DEVEDORES, OUTRA VEZ



Há muita gente endividada no Brasil – mas, na maior parte, quem deve não está com o nome sujo porque exagerou naquela bolsa de couro ou naquela viagem para a praia; a maior parte de quem deve fez a dívida para comprar comida mesmo[1].


Mas entre essas pessoas pobres, que precisam comprar comida, há um perfil que se destaca: as mulheres, nada menos do que a “parcela mais endividada da população”[2].

Não é à toa, aliás, que na nova configuração do Bolsa Família, o programa tenha por prioridade justamente elas: as “mulheres com filhos”[3].


São elas quem mais devem dinheiro – e fazem a dívida para poder alimentar os filhos. A comida acaba, a dívida permanece, a fome mais uma vez se aproxima.


Quem sabe, se houvesse um mínimo de qualquer sentimento próximo da empatia, não seria o caso de constatar que, na verdade, a dívida verdadeira é nossa para com elas. Nós, devedores – outra vez.




________________________________________________________________________________ [1][1] Folha de S. Paulo, edição de 28.11.22, matéria intitulada “Mais pobres se endividam para comprar comida e pagar contas”. [2] Folha de S. Paulo, edição de 21.01.23, matéria intitulada “Desenrola pode negociar dívidas de 40 milhões”. [3] Folha de S. Paulo, edição de 12.12.22, matéria intitulada “Fila do Auxílio Brasil ressurge após eleição e já tem 128 mil famílias”.

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