Já é da nossa tradição: a inflação aumenta, e ela aumenta porque aumentou o preço da comida. Às vezes, ela nem aumenta tanto – mas o preço da comida, esse não para de aumentar (“puxando para cima”, como se diz, o índice geral da carestia). O corte de cabelo, a roupa ou o transporte podem nem aumentar tanto assim, mas o frango, a banana e o leite não perdoam: aumentam sempre.
É a chamada inflação de alimentos – e no último mês[1] não foi diferente: a batata aumentou 14%, a cenoura, 17%.
É evidente que comida mais cara dói muito mais em quem é pobre – porque não dá para substituir ou ficar sem comida. Mas a situação fica ainda mais desesperadora quando falamos das mulheres.
A fome piorou muito no Brasil entre 2.019 e 2.021 – mas entre as mulheres, conforme mostram estudos da FGV Social, a insegurança alimentar aumentou 14 vezes mais entre as mulheres do que em entre os homens[2] (o que, certamente, está relacionada à responsabilidade que muitas delas têm em conduzir, sozinhas, os destinos dos filhos e filhas).
Elas estão sozinhas, ficam cada vez mais pobres, sofrem mais os efeitos da fome, têm mais responsabilidades para com as crianças e têm muito, mas muito mais dificuldades em se colocar no mercado de trabalho. São as mães solo.
É o último lugar da fila – um lugar de limites, onde ninguém quer estar. E justamente aí que temos de estar: no limite das nossas possibilidades, ajudando quem mais precisa
______________________________________________________________________________ [1] Folha de S. Paulo, edição de 10.02.23, matéria intitulada “Sob pressão de alimentos, IPCA avança 0,53% em janeiro e acumula alta de 5,77% em 12 meses”. [2] Folha de S. Paulo, edição de 30.05.22, artigo da professora Marcia Castro intitulado “Com fome, não há desenvolvimento”.
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